segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Cachorro e o Tablet

No próximo dia 3 de abril, o iPad assopra duas velinhas. Nem parece que foi ontem o lançamento de um controvertido produto, em cima de uma tecnologia que existia há mais de uma década e que a maioria dos analistas e concorrentes apostava que ia ser um fracasso.

Mas o mundo real provou o contrário: o iPad e os tablets concorrentes rapidamente ultrapassaram a barreira de 100 milhões de unidades vendidas e um mercado superior a US$100 bilhões foi virtualmente criado a partir do nada. Ou melhor, a partir de uma visão de uma pessoa -Steve Jobs- que dizia não adiantar fazer pesquisa de mercado para saber da reação dos compradores sobre algo que eles ainda nem sabiam que iriam precisar.

A discussão sobre a utilidade do tablet segue aquecida, mesmo entre os quase 200 milhões de proprietários mundo afora.

Outro dia, recebi mensagem de um amigo meu no Facebook que se dizia preocupado com a proliferação de dispositivos que ele acabava tendo que aderir por conta da necessidade de se manter atualizado e conectado com o mundo.

E aí ele me listou, por ordem de aquisição: desktop, câmera fotográfica, iPod, laptop, smartphone pessoal, filmadora Full HD, smartphone corporativo, GPS e finalmente o tablet.

Nesse meio do caminho, ele relatou que quase não usa mais o desktop, o laptop ficou para uso profissional, os smartphones não desgrudam dele e o tablet "só falta ter um siga-me automático, um latido e algumas pulgas para ficar que nem meu cachorro de estimação".

Ele também acaba usando sua câmera digital em ocasiões muito especiais e aposentou definitivamente a poderosa filmadora Full HD, já que a câmera e um dos smartphones são capazes de capturar vídeos 1080p com praticamente os mesmos efeitos, ao menos dentro de sua expectativa de uso. O iPod não virou sucata, mas agora mora em uma docking station conectada a seu home theater.

Desde novembro, diz meu amigo, ele só percorre suas quatro contas de e-mail usando seu tablet, aí contada a corporativa, e nem se lembra mais quando foi a última vez que ele alugou um vídeo na locadora ou comprou um título de livro impresso em inglês ou alemão pela Amazon, esses viraram eBook. Músicas em meio físico, então, nem pensar, depois que ele conseguiu comprar as coleções de Adoniran Barbosa e dos Beatles na iTunes Store para repor as que havia perdido quando de seu primeiro divórcio. E o GPS do carro, que ele pagou uma grana preta, agora está disponível como um aplicativo para seu smartphone por uma fração do preço.

Como ele já é um cinquentão alto, significa que ele passou por várias fases da evolução tecnológica e dos traumas a ela associados. Poderia ter sido tentado a pregar as virtudes do passado, mas seguiu, valente, as novas tendências.

Hoje ele é absolutamente dependente do tablet, algo que, em abril de 2010 ele nem imaginava ter. Quando eu postei minha primeira perspectiva do iPad neste blog, ele disse que estaria na turma dos que "nem esperando para ver o que aconteceria teria a mais remota tentação de comprar um". Sua rejeição ao tablet, que ele nem sabia o que era, durou meros três meses, e acabou quando ele foi em julho com a filha e os dois netinhos para Orlando, com direito até mesmo a fila de espera na loja da Apple.

Mas é aí que a cobra fuma: no meu entender, pouco importa o que eu, meu amigo ou todos os demais nascidos no século XX, no segundo milênio da era cristã, podem pensar. O fato é que essa geração D nascida em anos que começam com 2 sequer viveu uma era sem internet, sem dispositivos com tela sensível ao toque e vai estar no mercado dentro de poucos anos.

E essas tecnologias, dentre outras coisas, eliminam barreiras de acesso ao conhecimento (internet) e criam uma forma intuitiva de interação com as máquinas. O touch-screen foi uma novidade nos smartphones e provaram seu verdadeiro valor nos tablets. Basta ver a naturalidade que qualquer criança tem ao manusear um tablet, mesmo sem ainda ter saido das fraldas.

Se voltarmos ao tempo, muita gente falava contra os smartphones (eram caros, muitos nem teclado tinham e lhes faltava a graça e a duração da bateria dos flip-phones, como o tão popular StarTac da Motorola) e mesmo contra os desktops (o presidente da Digital Equipment, Ken Olsen, dizia na década de 70, que não via nenhuma razão para um indivíduo ter um computador em casa. Não por outro motivo, a DEC, então lider de mercado no segmento de minicomputadores, acabou comprada pela Compaq, que, por sua vez, acabou no bolso da HP).

No caso do tablet, a mudança foi e será ainda mais radical, pois o descrédito original transformou-se rapidamente na percepção de que ele potencializa o uso de múltiplas funcionalidades e facilita, como nenhum outro, o acesso a conteudos dos mais váriados tipos, e já possui literalmente milhões de aplicativos disponíveis, a maioria gratuito.

Mas ainda não chegamos lá.

Ao meu amigo do Facebook, eu respondi que, à excessão das pulgas, ele poderia ter quase todo o resto do cão no tablet, ou quase isso, o que lhe gerou uma dúvida existencial em relação ao seu companheiro de muitos anos...

Numa dessas, dá para pensar num App que atraia pulgas e o tablet comece a se coçar, mas aí já é querer demais!