quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Linha do Tempo de 1 Bilhão de Dólares em Software

Quando o mundo era mais simples, o número de computadores instalados era pequeno, muito pequeno. Os clientes eram poucos, e com muita grana. O caro era o hardware, que custava milhões de dólares de então e o software era coisa simples, por conta de um hardware limitado.


Mesmo assim, já era possível torrar dinheiro com software.


Agora, convivemos com os softwares gratuitos ou muito baratos (US$ 0,99 é um preço típico das Apps nas lojas da Apple e do Google). Será que...?

Vamos fazer um exercício matemático simples, com um número mágico: 1 Bilhão de dólares. Dos dólares bons, não esses fajutos que perdem valor a qualquer espécie de especulação ou de perdularismo na gestão de contas públicas. Vamos supor 1 Bilhão de dólares Constantes, representado assim:
US$C 1.000.000.000 ou abreviadamente US$C 1B, sem centavos, e com lastro.

Nesse mundo hipotético, lá atrás, na década de 60 existia um só cliente que precisava se diferenciar dos outros. Uma megamultinacional, um governo querendo ganhar a guerra fria, um projeto para levar o homem à lua, pouco importa. Para atingir esse objetivo, esse ente tinha o único computador do planeta, mas precisava desse US$C 1B para fazer o software. Ele pagou e atingiu seu objetivo!

Passados uns anos, eis que existem agora 10 clientes, cada um com um orçamento de US$C 100M (cem milhões). De novo, os clientes pagam essa grana toda e conseguem atingir seus objetivos, com projetos melhores e mais sofisticados.

De tempos em tempos, nesse cenário lúdico o mercado se multiplica por 10 em número de clientes, mas cada um só paga um décimo do que custou a última fornada de soluções.

Então teríamos a seguinte evolução:
CLIENTES         VALOR POR CLIENTE (US$C)       RECEITA TOTAL (US$C)
1                              1.000.000.000                                     1B
10                               100.000.000                                     1B
100                               10.000.000                                     1B
1.000                              1.000.000                                     1B
10.000                               100.000                                     1B
100.000                               10.000                                     1B
1.000.000                              1.000                                     1B
10.000.000                               100                                     1B
100.000.000                               10                                     1B
1.000.000.000                              1                                     1B

Claro que esse é um sofisma, um exagero de simplificação. Mas explica a lógica dos produtos licenciados a menos de um dólar, desses que conhecemos e gastamos em Miami.

O fato é que a grande sacada que a Apple deu nesse mercado cada vez maior e mais conectado foi oferecer aplicativos tão bonitos e sofisticados a preços "simbólicos". E, antes deles vieram as músicas e os vídeos baratinhos. Os livros digitais também fazem bonito, mais baratos que os de livrarias.

Ocorre que mais pessoas estão gastando cada vez mais para comprar aplicativos e conteúdo. Tem o lance também de aplicativos gratuitos, cujo formato mais bem sucedido é o do Google com seu arsenal que nada custa (mas os anunciantes adoram pagar), salvo se você quiser mais funcionalidades. Aí, babáu! Você está mais dependente desse modelo do que se usasse alguma droga pesada, não tem jeito!

No mundo real, o número de internautas já é maior que 2 Bilhões, os que usam celular 5 Bilhões... E a lógica do aplicativo ou do conteúdo raro e caro caiu por terra. Agora você compra mais, por ser barato, mesmo que não use.

Isso vale para aplicativos mas também para conteúdo. Nesses últimos, não existem mais livros esgotados, concertos de rock raros ou músicas de compositores e intérpretes pouco escutados. Esse mundaréu de gente é que escolhe.

Só que aí aparecem os"novos", com "mais funcionalidades", os "premium". Você é bombardeado com pacotes de anunciantes ou provedores que oferecem um monte de coisas a preços incríveis, mas que vão saber quem você é, aonde você está e do quê você gosta.

Os custos de distribuição e de intermediação desses produtos foram vaporizados, fazendo com que indústrias inteiras tenham tido que se reinventar, que o digam as editoras de livros, as distribuidoras de música e os estúdios de cinema.

Então, a progressão hipotética que mostrei no começo é muito mais forte, daí a indústria de software e conteúdo ter ultrapassado a casa do trilhão de dólares.

É só pensar no que gastávamos antes com conta de telefone, compras de música, de vídeos, de livros, de aplicativos e do uso de novas funcionalidades e serviços que nem sonhávamos existir algum dia. É uma grana preta, muitos US$C equivalentes em reais.

Já pensaram se o mundo fosse mais simples para fazer correlações lineares como a da tabela acima, que nem precisa de Excel, dá para fazer na unha? Não, ele seria chato e sem cor. O novo é sobretudo a opção individual de montar seu pacote digital e perceber como ele pode evoluir e com isso, melhorar sua qualidade de vida.

O modelo é bem mais complexo. No caso do software e do conteúdo, a Apple percebeu a mudança. A Adobe, não, como você pode ler na postagem anterior.

Adobe X Apple e a caçapa cantada

Era uma questão de tempo: Nesta terça, 8/11, a Adobe anunciou uma reestruturação da companhia para focar-se em duas áreas de crescimento explosivo, mídias digitais e marketing digital. O que não fica muito claro na nota é a razão da demissão de 750 colaboradores de uma pancada só. Mas o motivo é um só: O Adobe Flash, ainda hoje dominante nas exibições de imagens e vídeos na internet, prepara seu passaporte para o museu.

Na versão para a imprensa, a Adobe diz que não fará mais evoluções do Flash para browsers de smartphones e tablets, justamente os segmentos de mercado que mais crescem, ao contrário dos desktops (queda acentuada), notebooks (em desaceleração) e netbooks (alguém viu algum novo modelo por aí?)

Quando o iPhone foi lançado em 2007, uma das principais críticas era exatamente essa, que o Safari não conseguia exibir videos criados em Flash. A Adobe e muitos rivais da Apple diziam ser essa uma estratégia suicida da turma da maçã; Steve Jobs batia firme dizendo que o Flash era proprietário e, ainda mais, suscetível a hackers e crackers, portanto não seguro. Para arrematar, o Flash seria um ogre no consumo de bateria, coisa ruim em dispositivos que se propõem a ser móveis e necessitarem um mínimo de conexão com a tomada de energia.

Mas eu via evidências de que a estratégia da Apple estava correta. O sucesso de seus produtos fez com que os portais e sites corporativos migrassem seus videos usando o HTML5, definitivamente o novo padrão.

Mas havia uma barreira: a Microsoft e sua dominância tanto em sistemas operacionais (Windows) e browsers (Internet Explorer) ainda aceitavam o Flash. Não mais: o IE 10 vem sem suporte para Flash, o que fará que, com o tempo, haja uma migração ainda mais forte para longe da ferramenta da Adobe.

Para o usuário comum, como a imensa maioria de nós, pouco mudará: continuaremos a acessar vídeos pela internet, e a vida segue normal.

Para os desenvolvedores que ganhavam seu dinheirinho usando soluções com a plataforma -paga- da Adobe, um mico que será resolvido reciclando suas estratégias de negócios, coisa que já vem ocorrendo de modo bem perceptível.

A Adobe deve seguir com seus planos anunciados dia 8, e ainda vai ter um carro chefe que lhe dá muita receita e muita margem: O Photoshop, aquele software de edição de imagens que tira defeitos de captura ou de origem das imagens e que 11 em cada 10 capas da Playboy são tratadas pelo programa.

Mas a forma de cobrança para o uso de licenças, tanto do Photoshop quanto de qualquer outro programa, está também se transformando, e para valer.

A falta de percepção da Adobe desse novo mundo da segunda década deste milênio pode explicar a queda do Flash. Mas isso é tema de uma próxima postagem...