segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fim da Tendinite?

Essas geringonças digitais que possuem mouse, controle remoto ou teclado são a alegria dos neurologistas, ortopedistas e fisioterapeutas: Muito uso, má postura ou uma associação de ambos é tendinite na certa, só para ficar no incômodo mais comum.


Mas podemos ter esperanças de que as coisas mudem!

Minha percepção indica que podemos estar caminhando para o fim, ou na pior hipótese, para a minimização do uso dessas interfaces antinaturais.

Dia desses estava em uma loja dessas de shoppping, onde vi uma demonstração de um desses novos televisores espertos (cada marca tem seu nome, então uso uma denominação genérica), com direito a test-drive dos curiosos.

Esse aparelho, com tela lá pela beira das 50", tinha sensor de movimento e reconhecimento de voz, e uma senhora nos seus sessenta, setenta e algo de idade mexia braços e mãos e falava com ele.

Dava para ver que ela (a senhora) não era das mais íntimas com dispositivos digitais, mas ia sem muito constragimento se iniciando nas maravilhas que o televisor -e o vendedor- prometiam.

Fiquei observando o ritual, e depois de uns 30 minutos vi que a venda acabava de ser feita, tão logo o marido chegou com o cartão de crédito.

Não resisti e fui perguntar ao casal qual a lógica da decisão de compra.

Ela: "Eu não aguentava mais o controle remoto para buscar o que queria, e agora posso só apontar para a TV e ela me obedece. Ou então mandá-la fazer o que quero"


Ele: "Ela quer mandar na TV assim como manda em mim"


Ela: "Tomara que a TV me obedeça, porque com você eu mando e você me ignora!"


Ele: "Mas eu tenho dúvidas se isso aí vai funcionar que nem na demonstração. O que eu queria mesmo era uma TV de alta definição e 3D, mas não sei como fica quando ela der uma ordem e eu não concordar. A TV obedece a quem??"


Ela: "Você ainda duvida, João*?"

Ali acabaram minhas dúvidas. Se antes, com os smartphones e tablets tomando de assalto a novíssima geração que não precisa mais de manual do usuário, agora podemos ter um novo nível de inclusão digital justamente naquela faixa dos resistentes à tecnologia, como o casal que conheci na loja.

Conversando com eles com mais calma, enquanto o pós-venda se perdia com a burocracia, acabei sabendo que eles são do tempo do videocassete que sempre ficava com o relógio piscando nas 12:00, porque eles não conseguiam ajustar. Mesmo quando a filha mostrava como fazer, já naquela época -meados dos anos 80- o dito cujo só servia para exibir fitas da videolocadora. Gravar programas de TV aberta, nem pensar!

Será que eles conseguirão se adaptar à nova maravilha da tecnologia? Ou eles acabarão se rendendo ao controle remoto, que vem junto?

Para mim, isso é irrelevante. O que parece ser inevitável é a chegada, para valer, do reconhecimento de gestos, voz e imagens, também pelos aparelhos de entretenimento doméstico. Daí para termos os eletrodomésticos conversando conosco é um passo.

Mas aí será necessário preparar os médicos, para evitar que encaminhem direto ao psiquiatra um paciente que afirma falar com o televisor e com a geladeira.


Afinal, pode ser uma pessoa muito saudável, não só da cabeça. Pode também não ter tendinite. 

*nome fictício

Nenhum comentário:

Postar um comentário