quinta-feira, 15 de abril de 2010

Usando Tecnologia Para Apagar Lampiões

Na virada do século 19 para o século 20, as cidades brasileiras começavam a ganhar iluminação elétrica nas ruas, substituindo os poéticos mas malcheirosos lampiões a gás ou querosene. Acabavam também os empregos dos acendedores desses lampiões, sem contar as românticas paqueras que faziam às domésticas.

Como o movimento sindical começava a engatinhar, houve pressão junto ao governo e às empresas para suspender a iluminação elétrica, por conta da legião de acendedores que seriam desempregados, deixando milhares de famílias sem pão.

Mais tarde, nos meados do século, apareceu o telefone com disco, que dispensava as telefonistas nas ligações locais. Nos anos 70, com a disseminação do DDD e do DDI, nem mesmo ligações interurbanas e internacionais precisavam de intermediárias humanas para completá-las.

Quando chegaram os computadores, a idéia era que, como “tudo que puder ser automatizado, será”, então milhões de empregos evaporariam.

Chegando a 2010, vemos que esses postos de trabalho deixaram –felizmente- de existir, ou migraram para outras formas, como, por exemplo, os milhões de operadores de call-centers que nos atormentam a vida e que não existiriam se não fossem os computadores e as comunicações automatizadas.

O número de empregos cresceu sempre com o avanço da tecnologia. Os reacionários contestadores da Revolução Industrial na Inglaterra do século 18 ficariam pasmos se pudessem antever o que ocorre nos dias de hoje.

Assim, falham redondamente desde sempre os analistas-profetas que baseiam suas predições na linearização do futuro em cima das condições do passado e do presente. Nada a ver...

Toda essa longa introdução é para mostrar que, via de regra, erramos ao projetar o futuro e traçar estratégias pessoais, profissionais e empresariais baseadas naquilo que já conhecemos ou no que o concorrente vem fazendo.

As grandes mudanças que transformaram o mundo não foram projetadas para tal. Um exemplo disso é a internet, que foi concebida como uma rede alternativa para o sistema de defesa norte-americano nos anos 60, dado o receio dos chefes militares de uma sabotagem dos inimigos soviéticos no sistema comercial de telecomunicações. Quando ela se espalhou e ficou muito cara e ociosa, houve a decisão de abri-la ao mercado.   O resto é história que pode ser checada na Wikipedia ou buscando as palavras-chave no Google.

Dois exemplos tecnológicos que valem a pena comentar para melhor ilustrar o ponto: Na década de 40, o presidente da IBM, Thomas Watson dizia que haveria um mercado global para, talvez, cinco computadores; nos anos 90, quando projetada a rede celular do Paraná, a estimativa dos técnicos era que mercado não comportaria mais que 5.000 aparelhos habilitados. Sem comentários.

Eu vejo, no mundo corporativo, um excesso de preocupação com a modernização de processos e projetos baseados na realidade pré-TI.  Não que usar computadores e internet seja uma furada, na maioria dos casos, mas o retorno sobre o investimento demora muito mais do que se imagina, muitas vezes criando não mais que uma camada adicional de burocracia com mais custos.

Poucos são os que pensam em inovar seus negócios com os recursos existentes da tecnologia da informação. Inovar de forma transformadora. Para provar esse ponto, basta pegar o ranking das maiores empresas globais ou brasileiras de 2009 e compará-las com as de 1999 e 1989, só para ficar nas duas últimas décadas. A brutal modificação dos nomes, dos ramos de atividade e da sede das empresas dá o que pensar.

Sem querer sugerir que caminhos tomar, pois se eu os conhecesse já os teria trilhado, mas será que não há uma atitude dos empresários de 2010 muito semelhante à dos acendedores dos lampiões de rua de um século atrás, enxergando só o retrovisor e não o que está à frente?

Pense nisso, ao planejar seus investimentos em tecnologia. Olhe o ranking das empresas como sugeri acima e pense de novo.

Acender e apagar lampiões empresariais em pleno século 21 é atraso de vida...

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