sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Programa de Índio

Há uma expressão antiga e politicamente incorreta para uma atividade pouco agradável ou intelectualmente baixa, dependendo do ponto de vista: Programa de Índio!


Pois bem, aqui vou tratar de três tipos de índios e buscar apontar aonde está o verdadeiro programa de índio.

O Índio 1 é o aborígene clássico, aquele latifundiário com direitos estabelecidos em nossa Constituição, mas que já foi intensamente explorado pelos colonizadores brancos que por aqui aportaram a partir de 1500. Mesmo criticadas por não-índios pelos privilégios concedidos, vemos que, nas Américas normalmente existem normas legais para proteger as poucas remanescentes tribos indígenas. O Brasil foi só um dos últimos países a estabelecer um estatuto legal para esses povos.

O Índio 2 é o cidadão brasileiro comum que tem ou esse prenome (vide o candidato a vice na chapa de José Serra nas últimas eleições, o Índio da Costa, que andou desferindo bordunadas verbais nos adversários) ou algum prenome ou mesmo sobrenome que remetem à cultura indígena, o que pode indicar homenagem aos ou descendências dos primeiros habitantes humanos de nossa terra.

Chegando ao terreno da tecnologia, o tema central desse blog, vemos que existe um Índio 3 que é bem difundido mas poucos sabem que existe. Falamos do Índio metal branco de símbolo In, prateado, macio, de número atômico 49 e massa atômica 114,76 que é muito usado na eletrônica moderna em telas sensíveis ao toque, ou touch-screen, como queiram nossos leitores.

Essas modernas maravilhas que facilitam nossa interação com dispositivos digitais com um simples toque de dedos possuem um componente baseado no óxido de índio-estanho, ou OIE na sigla brasileira. É o índio que tem propriedades de transparência e condutividade mais adequadas ao uso em massa de telas touch-screen.

Mas esse índio é raro no mundo, subproduto de mineração de outro metal e de difícil ou por vezes desinteressante extração. Mais ainda, a maioria das minas que possuem minério com concentrações razoáveis estão na Super China, a provável maior potência econômica do século 21. Ela tem tecnologia, capacidade produtiva, vontade focada e disciplina de ser a primeira em tudo e, especialmente, determinação de investir pesado em educação,  pesquisa e desenvolvimento, ou P&D para os íntimos....

Para mim, aqui surge o verdadeiro programa de índio do Brasil de 2011: sua pouca relevância em programas de P&D aplicada e, antes disso, o nosso já medido e reconhecido gap na área educacional.

Já ouvi em debates que isso não é relevante, que temos tempo de recuperação, e coisas do gênero.

Mas é inegável que, embora alguns pesquisdores nossos aqui no Brasil começam a se interessar pelo Índio 3, lá fora os cientistas do ramo já desenvolvem alternativas ao OIE, não só para evitar a dependência de um metal escasso e com reservas no fim, mas também para atender aos requisitos da próxima geração de telas de todos os tamanhos que cada vez mais fazem parte de nosso dia-a-dia.

Quando tivermos dominado o ciclo do índio aqui, se é que conseguiremos, faltará o In, ou o metal índio, e novos materiais já terão tomado seu lugar sem a nossa participação.

Enquanto o tema P&D seguir sendo tratado com entendimentos diversos por governo, academia e empresas, e ainda por cima com pouco dinheiro em jogo, tenderemos a ser cada vez mais colonizados tecnologica e economicamente.

Assim como os índios originais, aqueles que o foram a partir do século XVI pelos portugueses, pelos espanhóis, pelos franceses, pelos ingleses, pelos holandeses, pelos...

Aí o jeito vai ser sair pelado por aí e trocar os minerais, a água e as florestas que sobrarem pelas novas quinquilharias que surgirem, como versões modernas dos espelhinhos, das pistolas e das aguardentes que eles (os neo-colonizadores) possam nos oferecer.

Um comentário: