quarta-feira, 14 de março de 2012

Ponto de Inflexão

A tradicional Encyclopaedia Brittanica, impressa desde 1768 sem interrupções, capitula: vai continuar enciclopédica e respeitada, mas só no formato digital.


Esse marco encerra discussões acadêmicas sobre o sério (impresso) versus o fútil (na internet, Wikipedia). Vale a pena ver o video onde a capitulação é explicada no YouTube.

Eu tenho em casa uma edição comemorativa do bicentenário da enciclopédia (1968), com 25 volumes. Junto com a coleção, veio uma reprodução da primeira edição (1768), com apenas três tomos.

A edição de 2012 fecha o ciclo da derrubada de árvores com 32 volumes.

Mas o fim da Brittanica no papel tem outras explicações, que por vezes podem passar desapercebidas.

Em primeiro lugar, a impossibilidade de manter atualizado um conteudo impresso a cada dois anos com a velocidade da evolução do conhecimento humando em tempos de internet.

Devemos considerar também o fim do monopólio da verdade. Se na era da Revolução Industrial -quando a enciclopédia surgiu- o grosso da ciência, da tecnologia, da arte e da cultura eram irradiadas ou influeinciadas pelo império onde o sol não se punha, hoje em dia a colaboração global parece desenhar o novo conhecimento.

As causas ecológicas são levantadas, mas a quantidade de papel usada para todos os exemplares vendidos em um ano é muito menor do que a usada por qualquer um dos 100 maiores jornais diários que circulam no mundo.

A mais prosaica de todas talvez seja a dificuldade de guardar e usar em casa os 32 volumes. As estantes estão cada vez menores, mais estreitas, e o acesso aos verbetes é algo incômodo, quando comparado à versão digital.

Assinaturas digitais da Brittanica para o computador já existem há algum tempo, e as apps para tablets estão disponíveis. Os preços, muito mais camaradas do que os US$ 1.400 da última edição em papel. A versão online vale  US$70/ano e as apps custam entre US$ 1,99 e US$ 4,99 por mês.

O modelo de negócios estava esgotado. Comparando esse preço com o de 44 anos atrás, a redução foi enorme. Lembro-me que o valor que investi foi parecido com o que paguei por um fusquinha zero.

Hoje, procuro quem queira receber de graça a coleção de 1968. Mas isso não é relevante.

O importante aqui é a inflexão de um modelo. Daqui em diante, o mundo digital fica com a exclusividade do conteudo do talvez mais tradicional veículo de registro do conhecimento humano.


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