sábado, 18 de setembro de 2010

De como jogar 534 anos no lixo

O escriba aqui está irado! Ontem foi dia de pagar o licenciamento anual de veículo, coisa que antes era simples: checar o Renavam na internet, emitir a guia, ou recebê-la pelo correio e pagar na rede bancária, tanto na agência como pela rede mundial de computadores. Tecnologia a serviço do contribuinte, do Estado e do órgão gestor dessas coisas que ajudam a fazer com que trabalhemos 5 meses por ano para pagar a tal da carga tributária.


Agora não é mais assim, aqui no Paraná... Os leitores do blog que residem em outros Estados ou países vão rolar de rir, mas a coisa funciona assim:
  1. O Detran emite uma correspondência ao proprietário comunicando a necessidade de pagar o licenciamento e o seguro obrigatório para um determinado veículo, placas tal e Renavam tal, com os valores e data de vencimento informados.
  2. Para efetuar o pagamento (transcrevo parte do comunicado oficial), emitir nos caixas de auto-atendimento do Banco do Brasil o "protocolo para pagamento on-line", informando o número do Renavam que consta do documento do veêculo e dirigir-se ao caixa para pagamento. Só pode ser pago no Banco do Brasil ou correspondentes autorizados.
  3. Aí o motorista entra na sala dos caixas e tem de pegar uma senha e esperar. Mais um papel e mais tempo, seguranças à espreita de possíveis criminosos que estejam usando celulares na agência, que aqui em Curitiba é proibido por lei, sim, isso mesmo... 
  4. Consolo: soube que não estamos sós, existem cidades onde é proibido usar celular na agência bancária, até para evitar sequestros relâmpagos de clientes marcados por marginais que avisam seus comparsas para que os peguem na saída com bolsos ou bolsas fornidas de reais. Proibir celular, tudo bem, prender bandido é secundário.
  5. Como efeito colateral, os funcionários das agências também estão proibidos de usar celular dentro de suas instalações. Ou seja, impede-se de usar o termômetro em vez de cuidar da febre, que é a onda de criminalidade que assola o país.
  6. Depois de estourados todos os prazos previstos em lei e o prescrito no Código de Defesa do Consumidor,  é hora de sair da agência e tentar tirar o carro do estacionamento lotado, claro que só depois de pagar a estada, de mais de uma hora.
  7. E aí, de volta ao trânsito caótico, que poderia ter muitos carros a menos, não fosse a exigência absurda que campeia aqui no Paraná, de só poder pagar os valores devidos ao governo do Estado em um só banco.
Em 2009, o Paraná tinha exatos 4.683.631 veículos licenciados, ou quase 1 veículo para cada 2 habitantes. Começa aí uma insidiosa discriminação do governo estadual, ao concentrar os pagamentos e uma pressão desnecessária sobre o Banco do Brasil que, mesmo remunerado adequadamente pelo serviço prestado, recebe um aumento de tráfego de pessoas em suas agências que, com certeza, prejudica os clientes que lá estão para tratar de outros assuntos.

Em tempo de internet banking, quando as transações pela rede já superam as convencionais, voltar ao passado por conta de uma briga ideológica é um atentado à paciência do cidadão/contribuinte.

Nem dá mais para usar o surrado argumento que diz que o carro é coisa de elite, de rico. Não mais, onde a maioria dos adultos que aqui residem têm carro. Facilitar sua vida é preciso.

Mesmo na hipótese da manutenção do contrato de arrecadação com o Banco do Brasil, nada contra, desde que fosse possível a qualquer cidadão pagar pela internet, ou usando a tradicional ficha de compensação.

Mas não é assim aqui na terra das (poucas) araucárias. Um ex-governador que brigou com todo mundo, inclusive com os bancos, exige um processo absolutamente fora da realidade do ano de 2010. E as coisas ficam assim, e ninguém reclama!

Pois bem, eu reclamo! E tomara que o próximo governador comece revogando essa aberração, onde todos perdem. Usar os recursos da tecnologia para fazer os processos fluirem melhor não custa nada, retira muito CO2 da atmosfera ao eliminar viagens desnecessárias e economiza, no mínimo, 5 milhões de hora/ano dos motoristas, fazendo uma conta simples: 1 hora/carro, contando o tempo de deslocamento e espera. Dividindo por 24 horas de um dia, temos  195.151 dias jogados fora, que, transformados em anos, dá algo como 534 anos no lixo, mais de meio milênio.

Eta birrinha cara!

3 comentários:

  1. Excelente artigo, caro Guy!
    Se formos além, refazendo os cálculos usando dias úteis, a coisa piora e muito!
    Considerando que são, em média, 22 dias úteis por mês e arredondando-se para 240 dias úteis por ano - e só estamos descontando os fins de semana; nem férias e nem feriados - o número passa dos 800 anos!
    Se considerarmos apenas as horas úteis, ou produtivas, individuais, basta triplicar o número e passamos (muito) dos 2000 anos, ou seja, toda uma era (a cristã) jogada na lixeira!
    A que ponto os absurdos de decisões erradas nos levam!
    Abraço.

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  2. Roger, obrigado pelo incentivo! Foi bom você haver colocado a coisa em termos de dias úteis e horários de trabalho. Só que, se você incluir férias, feriados e finais de semana a conta fica mais feia ainda, e vamos aos períodos bem anteriores a Cristo. E isso só para uma taxinha que é gerida pelo Detran. Imagina todo o resto que nos é impingido...

    Abraço!

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  3. O que você espera? O "melhor secretário da Educação" do planeta segue impugnao no Tribunal de Contas, sem emprego; o "melhor administrador de portos do mundo" também desempregado, depois de saquear os móveis do escritório de representação do PR em Brasília; o "melhor sobrinho do mundo" ganha apoio do tio, tão forte quanto a carteirada que o velho deu na polícia no dia que o guri atropelou e matou uma pessoa em Curitiba.

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